quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O ônibus

A vida é como um ônibus, que vai a toda velocidade, um ônibus em que você precisa subir. O ônibus não para. Você está atrasado. O ônibus, majestoso em sua enormidade, você medíocre em suas pernas curtas. Você corre, precisa alcança-lo, o motorista parece perceber e pisa mais fundo no acelerador. Você o persegue, talvez por um, dois, três quarteirões. O ônibus para, as portas se abrem, o motorista sorri, você sobe. Quando passa pela roleta descobre que não é mais um menino, se tornou um homem velho e cansado. Senta-se no corredor, e só então percebe. Pegou a condução errada, e não sabe ao certo onde é o terminal.
A vida é como um ônibus.

domingo, 13 de outubro de 2013

Visão de Cabiceira

Não é como se as cores fossem as mesmas. As cinzas não estão no cinzeiro, elas nunca estiveram ali. Conto as bitucas, uma, duas, três, quatro. Pequenos invólucros de câncer empilhadas na janela. Não é como se as cores fossem as mesmas. As meias jogadas no canto do quarto, sempre estão ali. Um, dois, três dias. Partes de ti esquecidas na rotina. Não é como se as cores fossem as mesmas. O cabelo ondulado, meio pro lado, a barba espetada, meia comprida, o sorriso torto, meio cerrado. Não é como se as cores fossem as mesmas. A porta fechada, você do outro lado, as pernas esticadas, você deitado, o mundo em silencio, você sussurrando, meu nome, meu namorado. Não é como se as cores fossem cores.